segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Quem tem medo de Cláudio Ferraz?


Apresentação de Cláudio Ferraz que escrevi para a Revista Época
(um dos 100 brasileiros homenageados)

Magro e sereno como um David Niven dos trópicos, Cláudio Ferraz recusa os tranquilizantes tarja-preta que lhe sugerem, nos momentos de tensão máxima. Prefere exercitar-se, como convém a um faixa preta em jiu-jitsu, instrutor de boxe francês, expert em tiro, íntimo das técnicas de operações especiais, mestre em resgate de reféns e mergulhador tarimbado. O corpo deve manter-se ágil e certeiro para acompanhar a velocidade com que a cabeça dispara seus comandos. Quem disse que basta inteligência e capacidade investigativa? Esta é uma das lições aprendidas na Escola de Oficias da reserva da Marinha, do Corpo de Fuzileiros Navais. Incansável e perfeccionista, o delegado titular da DRACO (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado, da Polícia Civil do Rio de Janeiro) ostenta, entretanto, uma fraqueza constrangedora: caso precise sussurrar uma informação, no front, sua voz de barítono colocará em risco a operação. Esforça-se por domesticá-la, dobrá-la, guardá-la no cofre, metê-la no bolso, mas ela se esquiva, rebelde, como um elástico sonoro fosforescente. Talvez a voz indomável de cantor de ópera seja o sintoma de uma conta que não fecha: como caberia tamanha obstinação em um metro e setenta e dois, sob o constante terno escuro e a gravata discreta?
Ninguém é tão temido e detestado pelas milícias do Rio de Janeiro, essas máfias cruéis, compostas por policiais, que tiranizam e exploram comunidades pobres, humilhando, torturando e assassinando. Nenhum outro policial carioca prendeu tanto miliciano e desbaratou tantas redes do crime organizado sob sua forma mais grave. Cláudio, com sua equipe da DRACO, foi responsável por mais de 400 das 500 prisões de milicianos efetuadas desde 2007.
Foi uma honra tê-lo como parceiro na realização do livro, Elite da Tropa 2, ao lado de André Batista e Rodrigo Pimentel.